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LIÇÃO Nº 6 – PACIÊNCIA: EVITANDO AS DISSENSÕES

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O salvo é paciente, ou seja, tem a capacidade, dada pelo Espírito Santo, de suportar o sofrimento e resistir ao mal, sem pecar.

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INTRODUÇÃO

– Tendo visto as três características ou qualidades do fruto do Espírito que dizem respeito diretamente ao nosso relacionamento com Deus (amor, gozo ou alegria e paz), passaremos a estudar as qualidades que dizem respeito ao relacionamento conosco mesmos (mansidão, fé e temperança) e com o próximo (paciência, benignidade e bondade).

– Seguindo a ordem de Gl.5:22, estudaremos, nesta lição, a paciência ou longanimidade, que é uma qualidade voltada para o próximo.

Nos dias em que vivemos, em que a imediatidade e a pressa são a regra, falar em paciência soa estranho e se apresenta como um desafio, mas os salvos em Cristo Jesus, se salvos são, devem ter esta característica, que é mais uma das marcas do nosso Deus, que é conhecido nas Escrituras, como longânimo (Nm.14:18; Sl.103:8; Jn.4:2; II Pe.3:9).

I – O QUE É PACIÊNCIA OU LONGANIMIDADE

– A palavra “paciência”, em português, vem do latim “patientia” que, segundo o Dicionário Houaiss, significava, entre os romanos, ‘capacidade de suportar, constância; submissão, servilismo; faculdade de resistir’.

Com efeito, quando vamos aos dicionários de latim, vemos que a palavra “patientia” é a ação de sofrer, porque sofrer, em latim, é “patior”, um verbo depoente, ou seja, um verbo que era conjugado na voz passiva, mas tinha sentido ativo.

Isto é importante para que saibamos que a ideia de “paciência” não comporta inatividade, passividade ou indiferença, como alguns pensam, mas tem em si a ideia de suportar o sofrimento, mas de um modo ativo, através de ações e não somente de inação.

– “Paciência”, dizem os dicionaristas de nossa língua, significa virtude que consiste em suportar os dissabores e infelicidades; resignação; capacidade de persistir numa atividade difícil, suportando incômodos e dificuldades; constância, calma para esperar o que tarda.

– Na Bíblia Sagrada, no Antigo Testamento, a palavra correspondente é “orēkh” (ארך ), cujo significado é “longo”, daí porque ter João Ferreira de Almeida preferido usar o termo “longanimidade” para traduzir este conceito.

Com efeito, “longanimidade”, segundo os dicionaristas, na sua origem, é palavra que significa “qualidade de ser sofredor”, sendo, hoje em dia, considerada a “virtude de se suportar com firmeza contrariedades em benefício de outrem; magnanimidade, generosidade e, por derivação por extensão de sentido, paciência, resignação com que se suportam contrariedades, malogros, dificuldades”.

OBS: A única vez em que aparece a palavra “paciência” na Versão Almeida Revista e Corrigida, no Antigo Testamento, é em Sl.40:1.

Ali, a palavra “paciência” foi usada para traduzir a palavra hebraica que já significa “esperar com paciência” e que é, inclusive, duas vezes repetida no texto do salmo.

 Na Septuaginta, o verbo usado é “hypomeno”, que é o verbo perseverar. Por isso, tanto a Vulgata Latina quanto a Versão do Padre Antonio Pereira de Figueiredo, usam a repetição do verbo esperar no texto.”

Aguardei com expectação no Senhor”, diz o texto da mais antiga versão católico romana da Bíblia em língua portuguesa.

– Em o Novo Testamento, a palavra “paciência” é tradução de, basicamente, duas palavras gregas: “hypomone”(υπομονή) e “makrothymia”(μακροθυμία).

A primeira significa “permanência em baixo de “, ou seja, “resistência”, “perseverança”, enquanto que a segunda (que João Ferreira de Almeida também traduz por “longanimidade”, como em Gl.5:22) significa “grande temperamento”, “magnanimidade”, “grandeza de espírito”, “generosidade”, “longa espera da mente, antes d3e ceder lugar à ira” (segundo R.C. Trench), demonstrando, assim, não só o aspecto de resistência, mas um lado positivo, um lado ativo decorrente desta atitude de suportar e de resistir.

– Vemos, portanto, que a ideia de “paciência” ou de “longanimidade” está vinculada, primeiramente, à ideia de sofrimento.

Ter paciência é ser capaz de suportar o sofrimento, de resistir diante do sofrimento, é a própria ação de sofrer. “Paciente”, que vem do latim “patiens” é “aquele que atura, que suporta, que sofre, que resiste”.

Um exemplo disto temos no relacionamento entre o médico e seu cliente, que é chamado de “paciente”, pois é quem vai ter de suportar, de aturar o tratamento que será levado a efeito pelo médico.

– João Calvino bem descreve esta qualidade do fruto do Espírito, “in verbis”: “…Longanimidade é a suavidade da mente, a qual nos dispõe a levar tudo com otimismo, não permitindo a suscetibilidade.…” (O fruto do Espírito apud Comentário aos Gálatas, p.170. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/fruto_espirito_calvino.htm Acesso em 2 nov. 2016).

– Se uma das qualidades do fruto do Espírito é a “longanimidade”, ou seja, a “qualidade de ser sofredor”, isto nos mostra que, ao contrário dos arautos da doutrina da confissão positiva ou da teologia da prosperidade, o crente sofre, tanto sofre que foi dotado pelo Espírito Santo de um caráter que contém, entre seus elementos, o de suportar ao sofrimento e de resistir ao sofrimento.

Quem não sofre, não tem paciência, como, aliás, deixou claro o apóstolo Paulo em Rm.5:3, de modo que, quem não sofre, não é verdadeiramente um salvo, um cristão, pois, como já temos visto neste trimestre, o verdadeiro salvo, aquele que está na videira verdadeira, inevitavelmente produz o fruto do Espírito Santo e um dos “gomos” deste fruto é, precisamente, a “longanimidade”, ou seja, a “qualidade de ser sofredor”.

OBS: “…Deus tem um propósito por trás de cada problema. Ele usa as circunstâncias para desenvolver nosso caráter.

 Na verdade, ele se utiliza mais das circunstâncias para nos tornar semelhantes a Jesus do que da nossa leitura da Bíblia. A razão é óbvia: você se defronta com as circunstâncias da vida 24 horas por dia.

Jesus nos alertou dizendo que teríamos problemas no mundo. Ninguém está imune à dor ou livre de sofrer e ninguém tem a oportunidade de atravessar a vida sem problemas.

A vida é uma série de problemas.(…). Deus utiliza os problemas para trazê-lo para perto de si.(…). Suas mais íntimas e profundas experiências de adoração ocorrerão provavelmente nos dias mais sombrios(…).

 Você nunca saberá que Deus é tudo o que você precisa até que ele seja tudo o que você tiver.…” (WARREN, Rick. Uma vida com propósitos, p.168-9).

– A paciência é uma qualidade que decorre do desenvolvimento espiritual do cristão.

Já vimos que, quando o homem aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador, recebe, de pronto, o amor divino, a alegria espiritual e a paz.

No entanto, não é assim que acontece com a paciência. A paciência, diz-nos a Escritura Sagrada, é produto da tribulação (Rm.5:3), é fruto do tempo, pois a longanimidade é o “longo ânimo”, e quando falamos em “longo”, falamos de decurso de tempo, tanto que, quando a Bíblia fala na longanimidade divina, frequentemente associa esta característica ao fato de Deus ser “tardio em irar-Se” (Ex.34:6; Ne.9:17;Jl.2:13; Na.1:3; II Pe.3:9).

OBS: O sofrimento é necessário para a formação do caráter do cristão, como, via de regra, do caráter em geral: “…Para que um caráter tenha algum valor, é necessário que se possa manter firme neste mundo de trabalhos, de tentações e de provas e que suporte o cansaço da vida diária.

(…) A vida inteira pode ser considera como uma grande escola de experiência, em que as mulheres e os homens são os discípulos.

Da mesma forma que, nas escolas, é preciso aceitar como verdades muitas das lições que se recebem.

Acontece, muitas vezes, que não as compreendemos e achamos duro ter de as aprender, sobretudo quando os mestres são os dissabores, as tristezas, as tentações e as dificuldades e, todavia, devemos não só aceitá-las, como também reconhecer que nos são enviadas pela mão divina(…).

Os resultados da experiência não se podem fazer sentir senão no decurso da vida, e a vida é uma questão de tempo. O homem experiente aprende a considerar o tempo como o seu ajudante…” (SMILES, Samuel. Trad de D.Amélia Pereira.O caráter, p.438-41).

– Quando o Senhor revelou o mistério da Igreja, imediatamente após ter dito que a edificaria, anunciou que “as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt.16:18), ou seja, a existência da Igreja está indissociavelmente ligada com a luta contra as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais (Ef.6:12).

Por isso, foi dito que, no mundo, o povo de Deus teria aflições (Jo.16:33), mas que isto não deveria nos desanimar, porque nos está prometida a vitória por nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (I Co.15:57).

A partir do instante em que passamos a servir a Deus, forças contrárias tentarão sufocar a nossa nova vida em Cristo (Mt.13:21,22) e isto é permitido pelo Senhor precisamente para que melhoremos nossos caminhos diante d’Ele, adquirindo, entre outras coisas, a paciência, que é um dos primeiros resultados decorrentes da poda nos ramos da videira verdadeira (Jo.15:2).

II- A PRODUÇÃO DA PACIÊNCIA OU LONGANIMIDADE

– A Bíblia mostra-nos, claramente, que a paciência ou longanimidade não é algo que venha da natureza humana, mas é fruto do Espírito Santo.

Neste ponto, aliás, temos de considerar como verdadeiro o que diz o Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, que afirma, textualmente, que “…o homem é, por natureza, impaciente…”(21:37) ou, ainda, “…em verdade, o homem foi criado impaciente, quando o mal o açoita, impacienta-se…”(70:19,20).

Como diz o estudioso islâmico Samir El Hayek, tradutor do Corão para o português, “…A pressa está no sangue do homem. Se lhe é dada uma folga para o seu próprio bem, a fim de que tenha uma chance de se arrepender e voltar para Deus, ele diz, incrédula e impacientemente:

“Que venha depressa o castigo, para que eu veja se o que dizes é verdade!” Qual, como é verdade! Quando o castigo realmente chegar, e ele o vir, não quererá que lho apressem.

Pobre criatura apressada! …” (nota 941 da tradução de Samir El Hayek do Corão). Embora discordemos que o homem tenha sido criado impaciente, é certo que esta impaciência é uma das características da natureza pecaminosa do homem.

– Vemos a impaciência aflorando no homem logo após a sua queda no jardim do Éden, quando o primeiro casal, assim que notou que estava nu, imediatamente tratou de resolver o problema a seu modo, cosendo folhas de figueira e fazendo para si aventais (Gn.3:7), expediente que de nada adiantou, pois, na chegada de Deus ao jardim, lá estavam homem e mulher nus como antes deste gesto apressado (Gn.3:10).

A impaciência é a incapacidade que o homem tem de esperar a solução divina para um problema, ou seja, para um obstáculo que lhe aparece no caminho da vida.

O homem, no pecado, desligado e separado de Deus, não espera pela providência que será tomada pelo Senhor de todas as coisas, por Aquele que tem o controle de tudo.

– Quando o homem aceita Cristo como seu Senhor e Salvador, volta a ter comunhão com Deus e, sendo assim, passa a ouvir a voz do Senhor (Jo.10:27) e se submete a ela.

A paciência é um dos resultados da submissão do homem a Deus, tanto que um dos sinônimos de paciência é submissão. Por isso, a Bíblia nos diz que o amor é paciente (I Co.13:4 ARA, NVI “in initio”), pois o amor divino é resultado de nossa submissão à vontade de Deus (tanto que o amor é apresentado como fruto do Espírito no sermão das bem-aventuranças pela bem-aventurança da “pobreza ou humildade de espírito”).

Quando amamos a Deus, esperamos a Sua intervenção no tempo segundo a Sua vontade. Quem ama, diz-nos o texto sagrado, “tudo sofre (…), tudo espera, tudo suporta.” (I Co. 13:7).

OBS: É interessante observar que, no Corão, a paciência é sempre apontada como uma das principais características do “islâmico”, i.e., daquele que é “submisso a Deus” (Islão significa “submissão” em árabe).

 “…A virtude não consiste só em que orientais vossos rostos até ao levante ou ao poente.

A verdadeira virtude é a de quem crê em Deus, no Dia do Juízo Final, nos anjos, no Livro e nos profetas; de quem distribuiu seus bens em caridade por amor a Deus, entre parentes, órfãos, necessitados, viajantes, mendigos e em resgate de cativos (escravos).

Aqueles que observam a oração, pagam o zakat, cumprem os compromissos contraídos, são pacientes na miséria e na adversidade, ou durante os combates, esses são os verazes, e esses são os tementes (a Deus).(2:177).

“…Sê paciente, juntamente com aqueles que pela manhã e à noite invocam seu Senhor, anelando contemplar Seu Rosto.…” (18:28 “in initio”).

 A exigência que Deus teria feito a Moisés, naquele livro, para que aceitasse o Seu serviço é de que fosse paciente:”… Moisés lhe disse[i.e., a Deus, observação nossa]: Posso seguir-te, para que me ensines a verdade que te foi revelada?

 Respondeu-lhe: Tu não serias capaz de ser paciente para estares comigo.

Como poderias ser paciente em relação ao que não compreendes? Moisés disse:

Se Deus quiser, achar-me-á paciente e não desobedecerei às tuas ordens. Respondeu-lhe: Então segue-me e não me perguntes nada, até que eu te faça menção disso.…” (18:66-70).

– A caminhada com Deus começa com a nossa renúncia de nós mesmos e prossegue quando tomamos a nossa cruz cada dia e, então, passamos a seguir a Jesus (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23).

A vida cristã tem, sim, um fardo, um peso, uma pressão, que não é um fardo pesado, nem um jugo duro, é um fardo leve e um jugo suave (Mt.11:30), mas não deixa de ser um fardo, não deixa de ser um jugo.

A vida cristã envolve uma carga, uma responsabilidade, um peso que é de cada um de nós e que nos acompanhará a cada dia até a vinda do Senhor e é no levar esta carga, no carregar este fardo, no se submeter a este jugo que desenvolveremos a paciência, a longanimidade.

– A cruz que tomamos fala-nos de sofrimento e cumprimento de missão. A cruz é o símbolo do sofrimento de Jesus para cumprir a vontade de Deus.

 Na cruz, Jesus morreu por nós, suportou todo o sofrimento, desprezou a afronta pelo gozo que Lhe estava proposto (Hb.12:1).

Jesus tudo suportou porque sabia qual era a vontade do Pai desde o início de Sua existência física (Hb.10:7-9). Assim também, para que possamos produzir paciência, é preciso, em primeiro lugar, termos plena consciência da vontade de Deus para as nossas vidas.

– Antes de tomar a cruz, o crente deve negar a si mesmo, ou seja, deve abandonar o seu próprio “eu”, a sua própria vontade e assumir a vontade de Deus na sua vida.

Como Paulo, o crente não pode mais viver, mas é Cristo que passa a viver nele. O novo nascimento implica na crucificação do nosso ego, da nossa autossuficiência. “Já estou crucificado com Cristo (…) e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim.” (Gl.2:20).

Esta atitude é a renúncia de si mesmo de que fala Jesus, é a “resignação” de que falam os filósofos.

Quem quiser ganhar a sua vida, perdê-la-á, disse o Senhor e este desprendimento de nossa vontade é um dos grandes desafios para o ser humano servir a Deus.

Observemos que, ao contrário do que defendem alguns filósofos, esta renúncia não é a anulação da sua individualidade, pois, como Jesus diz, cada um deve tomar a sua cruz, ou seja, o indivíduo não deixa de existir, não há supressão da individualidade de cada um, mas voluntária e conscientemente, a pessoa põe a sua vontade aos pés do Senhor, disposto a tudo entregar e a só fazer o que for da vontade de Deus na sua vida.

– Para sabermos qual é a vontade de Deus para as nossas vidas, é necessário que ofereçamos um culto racional, ou seja, que nos apresentemos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm.12:1).

Quando adoramos o Senhor, e adorar é servi-l’O, fazer o que Ele nos manda, passamos a experimentar a vontade de Deus nas nossas vidas e, com isso, temos condição de tomar a cruz e segui-l’O.

 O culto racional a Deus, ou seja, um culto consciente, com entendimento, é feito mediante a meditação na Sua Palavra (Sl.1:1,2) e a oração contínua (Ef.6:18).

– Tendo sabido qual é a vontade de Deus, conhecemos o Seu propósito e, desta maneira, sabemos para onde estamos indo, para que e porque estamos numa determinada posição no nosso lar, na vizinhança, na nossa igreja local, na sociedade.

Tendo conhecimento do propósito de Deus, sabemos que “tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.” (Ec.3:1) e, assim, passamos a servir a Deus conscientes do propósito divino e confiantes que, no momento certo, na hora determinada por Deus, este propósito se cumprirá.

– Jesus tinha plena consciência do propósito de Deus na Sua vida e, ante situações angustiantes, como aquelas em que a população Lhe queria matar, como vemos em Nazaré (Lc.4:28,29) ou em Jerusalém (Jo.8:59), não Se desesperou, mas passou por entre os Seus algozes, sem que nenhum mal Lhe fosse feito, porque sabia que ainda não havia chegado a Sua hora (Mt.26:55,56; Jo.7:30).

– Ao sabermos o propósito de Deus em nossas vidas, preparamo-nos para adquirir paciência, pois passamos a andar segundo o tempo de Deus e não segundo o tempo do homem.

“A demora vem quando o eu encontra no coração lugar, se entregaste tua causa a Deus, sê paciente em esperar”, como diz conhecido cântico de autoria de Alceu Pires.

 Ser paciente é passar a ter o “cronômetro de Deus”, é viver na perspectiva da eternidade, é ver os acontecimentos e os fatos sob a ótica de Deus, que é o “eterno presente”, é não se deixar levar pelo decurso do tempo, uma realidade que somente existe para nós, mas que nada é ante o Criador dos céus e da terra.

– A paciência, portanto, faz-nos desfrutar da perspectiva da eternidade, conduz-nos para o tempo de Deus, é o vínculo que nos leva, desde já, ao eterno, ao atemporal, à dimensão celestial, pois, como sabemos, quando estivermos na nova Jerusalém, lá não haverá o tempo (Ap.21:25). Ter paciência, portanto, é mais uma conformação de nossa imagem à imagem de Deus.

Quando mostramos paciência, refletimos ao mundo a imagem de nosso Criador.

– Após ser tomada a cruz, ela tem de ser suportada, ou seja, carregada. Paciência fala-nos de suporte. O que é suportar? Suportar é aguentar, resistir, ter um peso sobre si e mantê-lo.

Quando temos consciência da vontade de Deus para nós, assumimos as responsabilidades que Ele nos dá e a sustentamos.

Embora tenhamos noção do tempo de Deus e do Seu propósito, não sabemos quanto tempo humano decorrerá até que este propósito seja cumprido.

Como disse Jesus, devemos carregar a cruz a cada dia ( Lc.9:23). O tempo do crente é hoje (Mt.6:34; Hb.4:7-11), ou seja, deve viver cada dia como se este fosse o último dia de sua carreira, o último dia de sua vida, realizando tudo aquilo que o Senhor lhe ordenou neste dia, o dia de hoje.

Quando o crente assim age, não dá lugar à ansiedade, um dos grandes males dos nossos dias.

Quando a nossa perspectiva passa a ser o dia de hoje, nós alcançamos o estado que nos permite suportar o peso que temos de carregar.

– O homem foi feito por Deus para viver eternamente, ou seja, sem o limite temporal.

A submissão ao tempo e à degeneração ao longo do tempo é consequência do pecado, não é propósito de Deus para o ser humano, cujo objetivo continua sendo o de conviver com o homem fora da dimensão temporal (Ap.21:3).

Assim, é da própria natureza humana pensar no dia de amanhã, raciocinar com relação ao futuro. Como tem consciência do futuro e não consegue dominá-lo, o homem, em razão disto, se aflige e fica ansioso.

O homem no pecado vive sob a égide da incerteza do dia de amanhã e da inevitabilidade da morte, a ponto de alguns filósofos do século XX terem visto nesta sensação a própria razão de ser da existência humana.

– No entanto, quando o homem aceita a Cristo e renasce espiritualmente, esta expectativa é alterada, porque o homem, embora continue sendo um ser humano e planeje o seu futuro, descansa nos braços do Senhor, pois sabe que Ele é o dono do tempo e que tudo está sob Seu controle.

O homem salvo planeja o futuro e deve fazê-lo, pois Deus deu a consciência de futuro ao homem para que ele a utilize, para que ele desenvolva as suas capacidades intelectuais, mas, quem está em Cristo, já resolveu o problema crucial da eternidade, já teve seus pecados perdoados, sabe que está nas mãos do Senhor e que ninguém poderá tirá-lo dali (Jo.10:28).

Assim sendo, consegue lançar a ansiedade, que naturalmente surge em seu ser, em Cristo, porque tem convicção de que o Senhor tem cuidado de nós (I Pe.5:7).

O futuro não tem condições de afligir o salvo de modo definitivo, de fazê-lo perder a paz, mas, muito pelo contrário, o futuro é visto pelo salvo como algo certo e conhecido, que não abala, mas antes confirma e torna mais vigoroso um presente de submissão e obediência à vontade de Deus.

– Suportar o peso da cruz, ou seja, aguentar as adversidades, os problemas, as incompreensões, as perseguições, sentir o amargor do cumprimento da Palavra de Deus, que, muitas vezes, exige grandes sacrifícios, não é tarefa fácil.

Mas suportamos a cruz, a cada dia, porque sabemos o gozo que nos está proposto, que nos está prometido por Deus.

 Nosso sentimento deve ser o mesmo de Paulo: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” (Rm.8:18).

– Como disse o salmista, muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas (Sl.34:19).

 Sabemos para onde estamos indo e o que estamos fazendo neste mundo para Deus, mas não temos consciência de qual é o itinerário, se as curvas são fáceis ou difíceis de se fazer, se as retas são planas, ou se o caminho tem altos e baixos, terrenos pantanosos ou secos e assim por diante.

O crente passa por dificuldades verdadeiras, por momentos de angústia e de aflição que nos alteram emocional e sentimentalmente. Muitas vezes enfrentaremos lutas e incompreensões que nos trarão dores imensas, pois a cruz não é um peso qualquer, nem um objeto agradável.

 A cruz fala-nos de um objeto que representa a condenação dos que nos cercam, o repúdio dos que estão à nossa volta, a ingratidão e a injustiça dos que convivem conosco.

 Mas Deus permite que tenhamos uma cruz para suportar porque esta cruz é que nos fará tornar como alvo de nossas vidas o gozo que nos está proposto. É esta cruz que não nos permitirá perder de vista Jesus Cristo, o autor e o consumador da nossa fé.

– Quanto tomamos a cruz, temos de aguentá-la, temos de suportá-la. Somente o faremos se seguirmos as pisadas de Jesus.

Jesus, diz-nos Pedro, com a autoridade de uma testemunha ocular e cuja paciência não era das mais exemplares nos dias do ministério público de nosso Senhor, que “…Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas.” E quais eram estas pisadas exemplares de Jesus ? Ei-las (I Pe.2:22,23):

a) não cometeu pecado – o primeiro passo para que suportemos a cruz é não pecar. Quando nos santificamos, quando nos separamos do pecado, adquirimos condição para suportar a cruz.

b) na sua boca não se achou engano – o segundo passo para que suportemos a cruz é termos compromisso com a verdade. Suportaremos a cruz se nunca faltarmos com a verdade. Se sempre falarmos a verdade, seja qual for o seu preço, teremos condição de suportar a cruz.

c) quando O injuriavam, não injuriava – o terceiro passo para que suportemos a cruz é não retribuirmos o mal com o mal, mas vencer o mal com o bem (Rm.12:21). J

esus nunca Se vingou de quem quer que seja e, convenhamos, poderia legitimamente fazê-lo, pois a vingança pertence ao Senhor (Dt.32:35; Sl.94:1).

No entanto, Jesus veio anunciar o ano aceitável do Senhor (Lc.4:19 “in fine”) e este anúncio persiste através de nós, que fazemos parte da Sua Igreja. Por isso, não podemos retribuir o mal com o mal, mas sempre fazer o bem, mesmo a nossos inimigos, pois isto é suportar a cruz.

d) quando padecia, não ameaçava – o quarto passo para que suportemos a cruz é, no sofrimento, não fazer ameaças. Ameaçar é anunciar malefícios, é fazer medo.

 O salvo não deve gerar medo nas outras pessoas, nem pregar males. Lamentavelmente há aqueles crentes que rogam pragas, fazem imprecações, amaldiçoam e ainda se sentem com o “direito” de fazer estas coisas, citando textos como os de Gn.12:3, como se ali Deus tivesse autorizado Abrão a amaldiçoar quem quer que seja.

Muito pelo contrário, o texto só nos permite inferir que Abrão estava liberado para abençoar. Há aqueles que, também, gostam de citar Hb.10:31 e 12:29, como se eles fossem o próprio Deus. Nosso agir deve ser completamente outro.

Sigamos o exemplo de Cristo, que, aliás, de pé recebeu o Seu servo Estevão, que teve uma conduta igualmente exemplar com relação aos seus algozes.

e) mas Se entregava Àquele que julga justamente – o quinto e último passo para que suportemos a cruz é se entregar a Deus, o justo juiz.

Entregar-se a Deus é se submeter a Ele, é deixar a Ele a incumbência de fazer a justiça quando e como quiser.

Vivemos dias em que as pessoas querem fazer justiça, não se conformam com as injustiças e, por causa disso, cada vez mais conflitos são levados aos tribunais e juízes e, ante a impotência destes organismos, aumenta a violência através daqueles que querem fazer justiça com as próprias mãos.

O salvo, porém, deve entregar-se Àquele que julga justamente, sabendo que todas as coisas serão julgadas no seu devido tempo pelo Reto e Supremo Juiz.

O filósofo alemão Immanuel Kant, que dizia ser impossível chegar a um conhecimento de Deus, afirmou que Deus existia pelo simples fato de que a justiça tem de ser feita, nem que seja no mundo do além.

– Mas tomar a cruz não é apenas colocá-la sobre os ombros ou sentir o seu peso, mas se faz necessário que, também, resistamos.

Como ensina a física, a uma ação sempre há uma reação de igual força e em sentido contrário.

Quando pomos nossa cruz sobre nossas costas, deve haver uma força das nossas costas sobre a cruz, uma força de resistência.

Um dos objetivos do Espírito Santo, quando salva um ser humano, é criar-lhe resistência, ou seja, criar uma força que lhe permita enfrentar as hostes espirituais da maldade, as forças contrárias a seu movimento em direção ao céu, pois, antes da salvação, a pessoa seguia o curso deste mundo (Ef.2:2,3).

Esta resistência somente vem a partir do momento que adquirimos paciência ou longanimidade, pois paciência é, entre outras coisas, faculdade de resistir.

– Existe uma ciência denominada “resistência de materiais”, muito conhecida dos estudiosos da engenharia civil, cujo objetivo é determinar as dimensões dos elementos de uma construção para que possam resistir à tensão que terão de suportar.

Cristo Jesus também edificou a Sua Igreja (Mt.16:18; Hb.3:1-6) e, sendo assim, tem de colocar cada elemento da construção, cada pedra viva (I Pe.2:5) em condições de resistir a tensão que terá de suportar. Assim, para que também suporte a cruz, o crente tem de ser capaz de resistir e a resistência faz parte da paciência.

– Sabemos que, assim que a Igreja foi edificada, contra ela se levantaram as portas do inferno(Mt.16:18).

Devemos, portanto, resistir contra o diabo e seus anjos (Ef.6:11-13; Tg.4:7; I Pe.5:8,9).

A resistência contra o diabo e seus anjos dá-se, em primeiro lugar, pela submissão a Deus, item sobre o qual já falamos neste estudo, que é um pressuposto para que resistamos ao maligno. Portanto, enquanto não obedecermos à Palavra do Senhor, não há como resistirmos ao adversário de nossas almas.

Assim, ainda que o poder de Deus se manifeste libertando vidas de possessões demoníacas, por exemplo, somente após a submissão ao Senhor, à aceitação de Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador, é que haverá uma verdadeira libertação na vida de alguém. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (Jo.8:36).

– Em segundo lugar, para resistirmos ao diabo e a seus anjos, temos de nos revestir da armadura de Deus (Ef.6:13-18), cujos componentes são:

a) o cinturão da verdade – mais uma vez, vemos que para que obtenhamos longanimidade ou paciência, é preciso que nos comprometamos com a verdade, lembrando que a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17).

b) a couraça da justiça – para resistirmos ao diabo, devemos ser justos, ou seja, cumprir a Palavra de Deus nos nossos atos e dar a cada um o que é seu, inclusive somente tomarmos para nós aquilo que nos é devido.

c) calçados da preparação do evangelho da paz – devemos guiar nossos atos, nossas ações segundo a Palavra de Deus, sendo pacíficos, como convém a verdadeiros filhos de Deus, como, aliás, vimos na lição passada. Temos de ser anunciadores, com palavras e com atos, da salvação na pessoa de Cristo Jesus.

d) escudo da fé – para resistir ao diabo, devemos confiar, dar crédito ao Senhor. Confiar em Deus não é dizer que cremos n’Ele, mas vivermos como Ele manda.

e) capacete da salvação – ter uma mente voltada para Deus e para o Seu reino e justiça. Dar prioridade às coisas espirituais, não se deixar levar pelas coisas desta vida.

Quando nos deixamos levar pelas coisas desta vida, não resistimos ao diabo e seus anjos e estas preocupações acabam sufocando a nossa vida espiritual, como Jesus deixou claro na interpretação da parábola do semeador.

f) espada do Espírito – a única arma de ataque da armadura de Deus é a Palavra do Senhor. Devemos pregar a Palavra com ações e com palavras. Através do anúncio da verdade, alcançaremos a nossa santificação e a salvação dos perdidos.

– Outro meio pelo qual podemos obter resistência é através do revestimento de poder.

O batismo com o Espírito Santo é uma experiência espiritual que aumenta a nossa resistência contra o maligno, pois, através dela, o crente fica cheio do Espírito e não há como o mal lhe resistir.

Estevão, cheio do Espírito Santo, em virtude desta condição, impediu que os judeus dissessem qualquer coisa em meio a seu contundente discurso (At.6:10).

Ante o batismo com o Espírito Santo na casa de Cornélio, Pedro não teve como impedir que fossem batizados nas águas aqueles gentios (At.11:17).

Vemos, assim, que o crente que é batizado com o Espírito Santo, embora se torne mais ousado, mais intrépido, também se torna mais paciente, mais longânimo.

– Também há aumento de resistência quando ocorre a união. O sábio pregador afirma que “melhor é serem dois do que um(…) E, se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão…”(Ec.4:9,12).

O texto, muito usado para a família, aplica-se a todo e qualquer grupo e, mui especialmente, à igreja, contra quem as portas do inferno querem prevalecer. Deus instituiu a Igreja para ser a “reunião dos salvos”, precisamente para que cada um ajude o outro a resistir ao maligno.

A vida comunitária na igreja local aumenta a nossa paciência, na medida em que amplifica a nossa faculdade de resistir.

– Outro meio de resistência é a transformação pela renovação do nosso entendimento (Rm.12:2).

A resistência mostra-se no nosso inconformismo com este mundo. Não podemos nos conformar com este mundo, ou seja, não podemos tomar a forma deste mundo, assumir seus costumes, seu modo de viver (“modus vivendi”).

Não estamos mais andando segundo o curso do mundo e, portanto, não podemos ser “Maria vai com as outras”. Temos de ser diferentes do mundo e, ainda que hábitos, costumes e valores se alterem, nós não podemos mudar.

Não sigamos o exemplo de Roboão que, “por ser jovem e terno de coração”, não teve condição de resistir aos inimigos (II Cr.13:7).

Para escaparmos desta conformidade com o mundo, que está avançando nas igrejas locais à medida que se aproxima a vinda do Senhor, precisamos evitar a imaturidade espiritual e o engano do coração humano, que foram os dois fatores que levaram Roboão à derrota.

Somente uma vida de maturidade espiritual, que somente se conquista através do estudo e meditação na Palavra de Deus e da oração contínua, que nos levará a um discernimento espiritual, com a mente de Cristo(I Co.2:9-16), impedindo-nos de sermos guiados pelo coração humano, que sempre é enganoso (Jr.17:9), dar-nos-á condição de resistirmos não tomando a forma do mundo mas sendo transformados pela renovação do nosso entendimento.

III – O QUE É CORRER COM PACIÊNCIA

– Tendo aprendido a resistir, o crente, então, começa a caminhar, seguindo os passos de Jesus.

A caminhada não é a passos de tartaruga, como alguém pode pensar, pois, como dissemos, o fardo é leve.

O crente não anda, corre (I Co.9:26; Gl.2:2; 5:7; Fp.2:16; II Tm.4:7; Hb.12:1), mas é uma corrida feita com paciência, com propósito, que não é desenfreada e imprudente como a corrida da lebre na conhecida fábula grega da lebre e da tartaruga.

Correr com paciência é correr “carregando a cruz com categoria”, como costumava dizer um conhecido nosso, que, aliás, nem crente era.

É suportar o peso da cruz, saber resistir aos percalços que surgem no caminho e resistir ao maligno. É uma caminhada que não conhece o que está por vir, mas que, nem por isso, é feita sem a consciência de para onde se está indo.

– Correr com paciência é correr sempre, é não parar de correr. Vimos que uma das palavras utilizadas para traduzir “paciência” no Novo Testamento é “hypomone”, ou seja, “permanência sob algo”.

A paciência, como diz o título de nossa lição, é o fruto da perseverança, ou seja, da continuidade, da permanência. Correr com paciência é jamais parar de correr.

Temos aqui a figura dos maratonistas, que, para suportar os 42 km de corrida, não desenvolvem uma velocidade elevada, mas uma cadência que os leva até o final da competição.

Recentemente, aliás, tivemos a demonstração clara da necessidade de uma continuidade, de uma permanência sem qualquer interrupção no episódio que tirou a medalha de ouro ao brasileiro Vanderlei Cordeiro da Silva nas Olimpíadas de Atenas-2004 (que, inclusive, acendeu a tocha olímpica nos Jogos Olímpicos Rio-2016).

Alguns segundos de interrupção foram fatais para que o brasileiro mantivesse a ponta da competição.

Na vida espiritual, também estamos numa maratona. A paciência é resultado da continuidade, da permanência, da perseverança e somente os que perseverarem até o fim serão salvos (Mt.24:13).

– Correr com paciência é correr apesar de estar passando ou ter passado por tribulação.

A tribulação produz paciência (Rm.5:3). Quem corre com paciência, portanto, foi ou está sendo provado pelo Senhor, está passando por aflições, angústias, problemas insolúveis, mas, nem por isso, deixou de correr.

Quando sofremos tribulações, o objetivo de Deus é gerar em nós a paciência, que é o velocímetro indispensável para que caminhemos para o céu.

Somente se chega ao céu se se trafegar dentro dos limites de velocidade, nem abaixo do mínimo, nem acima do máximo regulamentado.

Se pararmos no meio da estrada ou trafegarmos abaixo da velocidade mínima permitida, somos punidos e retirados da estrada.

Se avançarmos além do limite de velocidade, também seremos punidos. Para estarmos sempre dentro dos parâmetros de velocidade, temos de sofrer aflições, temos de passar por tribulações, pois assim alcançaremos a paciência, que é indispensável para que não deixemos de correr e correr de forma a alcançarmos o objetivo de nossa fé: a salvação (I Pe.1:9).

Através das tribulações, adquirimos a paciência e esta nos leva à experiência (Rm.5:4), sem a qual é impossível o nosso crescimento espiritual.

– Correr com paciência é correr com objetivo, com propósito, saber porque e para que se está correndo.

Quem corre sabendo qual o objetivo a ser alcançado, não se atrasa, nem se adianta, mas corre segundo o tempo de Deus, pois sabe, precisamente, o que o espera, porque está caminhando.

O corredor sem objetivo, sem propósito, via de regra, é um corredor precipitado que, apesar de toda a sua velocidade, não faz senão perder tempo. Um exemplo disto vemos, na Bíblia, no caso de Aimaás que, em toda a sua precipitação, foi rápido e veloz para levar as novas da guerra ao rei Davi, mas, apesar de toda sua velocidade, não tinha sequer mensagem para o rei.

Cusi, porém, ao contrário, apesar de ter sido menos veloz, era paciente e, mesmo chegando depois, teve condições plenas de satisfazer as necessidades do soberano (II Sm.18:19-33).

– A corrida com paciência, ante esta visão de objetivo, de propósito, permite que o corredor tenha alegria e esperança.

A Bíblia fala-nos que Jesus suportou a cruz por causa do gozo que lhe estava proposto, ou seja, ante o propósito, a convicção do que estava prometido e para que estava sofrendo tudo aquilo, nosso Senhor correu com paciência a carreira que Lhe estava proposta.

A corrida com paciência permite-nos desfrutar da alegria espiritual, do gozo, pois “as aflições do tempo presente não para comparar com a glória que nos está reservada”.

– A corrida com paciência, porém, além de nos trazer alegria espiritual presente, desperta em nós a esperança, pois, se sabemos porque e para que estamos correndo, passamos a esperar o fim que almejamos.

O resultado da experiência produzida pela paciência é, precisamente, a esperança (Rm.5:4 “in fine”). Como afirma Paulo, “mas se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos.” (Rm.8:25).

A esperança do cristão, que é uma esperança que não traz confusão (Rm.5:5a), é fruto da corrida com esperança. Por isso, o apóstolo, no final de sua vida, após concluir a sua carreira, podia dizer que esperava a coroa da justiça e a vinda do Senhor Jesus (II Tm.4:8).

O sofrimento do crente nesta vida não é para que ele fique desesperado, mas, bem ao contrário, é o remédio divino para que tenhamos esperança.

– Correr com paciência é ser sábio. A sabedoria é uma dádiva direta de Deus (Tg.1:5) e consiste não num conhecimento cultural de alguém, muito menos numa maior inteligência de quem quer que seja, mas é a capacidade de pensar e agir bem em qualquer empreendimento realizado. Salomão, ele próprio um sábio, disse que o longânimo é grande em entendimento (Pv.14:29).

O paciente tolera o sofrimento, a adversidade e não se precipita a tomar decisões. Pondera todos os lados de uma questão e não se deixa iludir pela aparência.

O cadinho do sofrimento faz com que o homem reflita antes de agir e, sendo um servo do Senhor, receberá, com certeza, a sabedoria que vem do alto, a sabedoria divina, que lhe trará equilíbrio e ponderação em todas as suas ações.

– Correr com paciência é ser pacífico. Já vimos que o paciente é sábio e a Bíblia nos diz que a sabedoria que vem do alto é pacífica (Tg.3:17), de modo que o paciente será, também, uma pessoa pacífica.

Mas não é só por esta inferência que vemos que a paciência traz paz a quem a tem. Em Pv.15:18, é dito que o longânimo é pacificador. Sendo tolerante para com as pessoas, não se deixando iludir pelas paixões e pelas dores, o paciente, que aprendeu a tudo suportar, é capaz de “colocar água na fervura” e de obter a concórdia mesmo onde os ânimos estão exaltados.

A longanimidade traz ao cristão uma capacidade de perdão que vem do próprio Deus.

 A longanimidade não permite que a cólera ou a fúria invadam o coração do crente, de forma que sempre será ele um pacificador, um apaziguador de contendas.

– Neste ponto, aliás, é oportuno observar que, no Dicionário Houaiss, é dito que o contrário de paciência é impaciência e fúria.

Nada mais contrário à paciência do que a fúria, fúria que significa, segundo este mesmo dicionário, agastamento, arrenegação, arrenego, assanhamento, assanho, ataraú, atrabile, atrabílis, braveza, breca, cólera, danação, denodo, desesperação, enfurecimento, enfuriação, enfuriamento, enraivecimento, escandescência, exuberância, fereza, feridade, ferócia, ferocidade, força, frenesi, frenesim, furor, gana, grima, ímpeto, impetuosidade, indignação, intensidade, ira, iracúndia, irritação, ódio, pressão, rabidez, raiva, rancor, rangomela, rebentina, reixa, sanha, selvageria, veemência, violência, zanga.

Todas estas coisas são contrárias à paciência.

Será que temos sido pacientes ? Será que temos aprendido as lições divinas nas tribulações ?

Se ainda temos algumas destas características, é sinal que não temos paciência e, portanto, preparemo-nos para as provações, a fim de que possamos criar em nós esta qualidade do fruto do Espírito.

OBS: “…A palavra longanimidade vem do vocábulo grego que indica “pensar longo”, “longo de emoção”, “longo de alma”, isto é, suportar muito.

Aponta para a grande paciência, grande tolerância, para a persistência em não se deixar arrebatar pelas emoções fortes, explosivas.

O contrário seria “curto de mente”, impaciência, dizem (no dizer popular) “estopim curto”, “estoura à toa”, aqueles que se mostram irritados facilmente. Os longânimos não se iram facilmente.…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.62).

– Correr com paciência é ser forte. Quem é forte? Segundo a Bíblia, forte é quem consegue dominar a si próprio, pois quem governa o seu espírito é mais poderoso do que aquele que toma uma cidade (Pv.16:32). Quando corremos com paciência, aprendemos a controlar a nós mesmos.

A paciência é resultado do sofrimento por que passamos e, no sofrimento, Deus nos dá a oportunidade de nos conhecermos melhor.

Jó, o exemplo magno de paciência nas Escrituras (Tg.5:11), ensina-nos isto ao dizer ao próprio Deus, pouco antes do término de sua prova, que era um ignorante a respeito do Senhor, que apenas havia ouvido falar de Deus, mas que agora O havia visto (Jó 42:2-5).

Jó, a quem o próprio Deus dera testemunho, tinha deficiências e fraquezas que não conhecia e que somente o sofrimento o fez conhecer e superar. Quem sofre, adquire paciência e o longânimo é maior do que o valente, precisamente porque tem condições de se dominar, de se controlar.

Vemos, assim, que a paciência dá nascimento a outro “gomo” do fruto do Espírito, a saber: a temperança. Por isso, o texto sagrado afirma que quando dizemos que somos fracos (ou seja, quando estamos sofrendo e adquirindo paciência), é sinal que estamos fortes (a paciência concede-nos a força) (II Co.12:10).

OBS: “…A virtude principal da fortaleza está composta de duas partes -acometer e resistir-. Para resistir, há uma série de virtudes inerentes que se relacionam entre si.

Concretamente, a paciência, a generosidade, a perseverança e a constância.

Nesta ocasião, nos interessam as duas primeiras. Estritamente, a paciência se vive tão somente quando se suporta um mal para repelir outro mal maior, enquanto a generosidade ajuda a suportar os aborrecimentos, quando tarda em chegar algum bem.

Entretanto, combinamos as duas virtudes na descrição operativa inicial, dado que costumamos nos referir a ambas como paciência na vida cotidiana. Uma vez conhecida ou pressentida uma dificuldade a superar, ou algum bem desejado que demora em chegar, suporta os aborrecimentos presentes com serenidade. …” ( PORTAL DA FAMÍLIA. Auto-avaliação das virtudes humanas. Paciência. http://www.google.com/search?q=cache:PuL2uIq-RyAJ:www.portaldafamilia.org/artigos/virt010.shtml+paci%C3%AAncia,+moral&hl=pt-BR Acesso em 27 dez. 2004)

– Correr com paciência é tornar-se um perdoador. Já vimos que a corrida com paciência faz com que passemos a andar segundo o tempo de Deus, a sermos pacíficos e a controlarmos a nós mesmos.

Dentro desta perspectiva, o perdão é inevitável, é uma consequência natural. A principal característica da longanimidade divina está, precisamente, na capacidade de Deus de perdoar os pecados dos homens se eles atenderem a Seu convite de arrependimento.

A primeira referência à longanimidade divina nas Escrituras está relacionada ao perdão. Porque o Senhor é longânimo, diz Moisés, Ele perdoa a iniquidade e a transgressão (Nm.14:18).

A longanimidade caracteriza-se, como já vimos, pela demora na demonstração da ira, pelo “longo ânimo”, pelo “alongamento do tempo para o arrependimento”.

É a paciência que dá oportunidade temporal para o arrependimento e só há sentido neste tempo dado ao arrependimento em virtude do perdão que é oferecido.

Deus demonstra todo o Seu amor para com o homem nesta atitude de adiamento, de extensão da manifestação da Sua ira, para que os homens se arrependam dos seus pecados (II Pe.3:9).

Assim, se adquirimos a paciência dada pelo Espírito Santo, também seremos perdoadores, também teremos este mesmo sentimento que há no Pai. Se não perdoamos o próximo, então não somos suficientemente pacientes e, desta forma, teremos de sofrer mais, para adquirirmos a longanimidade que nos fará perdoadores, como, aliás, ocorreu com aquele servo que, perdoado pelo seu senhor, não perdoou o seu conservo (Mt.18:23-35).

– Correr com paciência é ser fiel. Paulo, ao terminar a sua carreira, disse que havia combatido o bom combate e guardado a fé. A carreira paciente leva-nos a guardar a fé, pela qual nós alcançamos a salvação de nossas almas.

A paciência gera a experiência que, por sua vez, gera a esperança, esperança que não traz confusão, ou seja, que confirma, como âncora, a nossa fé em Cristo Jesus (Hb.6:19).

A experiência que surge da paciência aumenta a nossa fé, faz com que sintamos os benefícios da lealdade e da fidelidade a Cristo nas nossas vidas.

É através da provação que a nossa fé cresce, pois a fé não é algo estático, mas algo que está destinado a crescer muitíssimo, assim como a semente da mostarda que, apesar de ser uma das menores sementes existentes, dá origem à maior hortaliça que se conhece.

Aqui vemos que a paciência amplifica um outro “gomo” do fruto do Espírito: a fé ou fidelidade.

– Correr com paciência é ser humilde. A Bíblia afirma que a longanimidade é superior à altivez do coração (Ec.7:8), a mostrar, portanto, que a paciência traz humildade ao homem. Nem poderia ser diferente: ao sofrermos, contemplamos toda a nossa fraqueza e, ao mesmo tempo, toda a fortaleza de nosso Deus.

Experimentamos o poder de Deus e isto nos faz conhecer melhor e, diante disto, entendemos, sem qualquer dúvida, de que nossa estrutura é de pó, nada mais do que isto.

Esta constatação livra-nos do ufanismo e do triunfalismo dos egoístas e dos adoradores de si mesmos, fazendo com que sejamos humildes de espírito e conscientes de toda a debilidade e fragilidade do ser humano.

IV – O TRÍPLICE ASPECTO DA PACIÊNCIA

– Sendo, como é, um “gomo” do fruto do Espírito Santo, a paciência ou longanimidade é algo produzido pelo Espírito de Deus, pois o homem, no pecado, separado de Deus, é, por natureza, impaciente.

A paciência vem de Deus e, portanto, o primeiro aspecto da paciência ou longanimidade é, precisamente, o da longanimidade divina, o da paciência de Deus.

– A longanimidade divina é “…aquela contenção ou suspensão da ira, das tréguas que Deus estabelece com o pecador, o que, entretanto, de forma alguma subentende que a irá não será executada finalmente; pelo contrário, subentende que ela certamente será executada, a menos que o pecador seja encontrado sob novas condições, as de arrependimento e obediência (Rm.2:4)…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.62).

– A paciência de Deus caracteriza-se por ser o período em que o Senhor deixa de executar o juízo decorrente da prática do pecado pelo homem a fim de que este tenha oportunidade de se arrepender e voltar a ter comunhão com o Senhor (Rm.3:25).

Porque Deus é longânimo, Sua ira não vem imediatamente após a prática do pecado por parte do ser humano, mas, no tempo humano, há uma demora, há um intervalo através do qual se dá oportunidade para o arrependimento humano.

Neste decurso de tempo, neste “longo”, está a longanimidade divina, a paciência de Deus. A queixa de Jonas, em Nínive, após o perdão dado pelo Senhor, residia, precisamente, no fato de Deus ser longânimo e, assim, o profeta sabia que o Senhor perdoaria os ninivitas se eles se arrependessem de seus pecados (Jn.4:2).

– Não há tempo que revele mais a paciência de Deus do que o que vivemos na atualidade, a dispensação da graça (II Pe.3:9), a ponto de, corretamente, ser este período conhecido como “tempo da paciência de Deus”.

Com efeito, vivemos “o ano aceitável do Senhor” (Lc.4:19 “in fine”). Jesus, ao anunciá-lo, fechou o livro e o devolveu ao principal da sinagoga de Nazaré, dando tempo ao homem para se arrepender, mas breve vem a hora em que se iniciará o “dia da vingança do nosso Deus” (Is.61:2).

A longanimidade divina tem como limite a Sua justiça.

OBS: “…os gemidos do tempo presente, este tempo de paciência e de espera durante o qual “ainda não se tem manifestado o que seremos” (1 Jo. 3, 2; cf. Col. 3, 4).” (Catecismo da Igreja Católica Romana, artigo 2772).

– A paciência de Deus revela, também, que o Senhor é tolerante com o pecador, mas não com o pecado. Um dos temas mais discutidos ao longo da história da humanidade tem sido o da tolerância.

Muitos têm até dito que a tolerância é incompatível com a ideia de verdade, pois, se cremos na verdade, não podemos tolerar o erro.

 No entanto, ao compreendermos a longanimidade divina, chegamos a uma conclusão: Deus é tolerante, pois a tolerância é resultado de Sua longanimidade, mas a tolerância se dá em relação ao pecador, jamais com relação ao pecado.

Os pecados foram cometidos sob a paciência de Deus, porque Deus ama os pecadores, mas abomina o pecado (Am.6:8).

Diante disto, esta “demora” na execução do juízo contra o pecado não significa que sejamos concordes com o erro, mas tão somente que devemos dar chance, oportunidade a que o errado se arrependa.

– Exemplo desta tolerância divina vemos na história de Israel. Em Ne.9:29,30, temos, sinteticamente, a atitude tomada pelo Senhor em relação à nação que havia formado para Lhe servir.

Todavia, apesar de toda a tolerância demonstrada com os israelitas, chegou o momento em que Deus executou o juízo já dantes estabelecido, impondo a destruição do reino do norte, o exílio na Babilônia do reino do sul e, mesmo, o grande exílio após a rejeição de Cristo, que começou a findar a partir de 1948.

Como nos mostra, claramente, o profeta Ezequiel, a tolerância de Deus com o pecador, em momento algum, elimina a realidade do acerto de contas com os pecadores que não se arrependerem (Ez.20:33-38).

– É, neste ponto, que vemos outro aspecto da paciência, que é a tolerância com o próximo, a compaixão.

Se somos ramos da videira verdadeira, devemos ser tolerantes com o pecador, devemos manifestar flexibilidade e compaixão com relação ao próximo, com relação ao outro ser humano.

 Como afirma Lao-Tsé, filósofo e líder de religião chinês, em sua obra “Tao Te King”, “…Dureza e rigidez são propriedades da morte. A flexibilidade e a brandura são propriedades da vida…”(LXXVI, tradução nossa de texto em espanhol).

Jesus jamais foi inflexível em Seu ministério terreno, mas, “…durante Sua vida terrena, Cristo demonstrou a característica da tolerância (Mc.9:19).

Jesus não exibiu o espírito de ressentimento e retaliação e repreendeu tal atitude em Seus discípulos (Lc.9:54 e s). O próprio Evangelho é a prova da tolerância de Deus, exercida por meio de Cristo.…” (CHAMPLIN, R.N. Tolerância. In: Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.450).

– O verdadeiro cristão tem de ser tolerante com o próximo, deve saber relevar o seu comportamento, procurando entender os gestos das pessoas, ainda que prejudiciais a sua pessoa, pondo-se no lugar do outro.

Isto é que é ter compaixão, sentir exatamente o que a pessoa sente. “…Os homens, por sua vez, precisam entrar em trégua uns para com os outros, esperando uma modificação para melhor, nas circunstâncias.

O perdão de Deus é a base do perdão que damos aos nossos semelhantes. Estamos endividados para com Deus, e devemos a nossos semelhantes misericórdia e bondade, mesmo quando eles não o mereçam (ver Cl.3:13) (…)

Se alguém quiser ser tolerado, precisa usar de tolerância. Se alguém quiser liberdade religiosa, precisará concedê-la a outros.

Se alguém quiser ser compreendido, terá de tentar compreender ao próximo. Se alguém quiser desfrutar de paz, precisará promover a paz entre seus semelhantes…” (CHAMPLIN, R.N., op.cit., p.450).

– Nos nossos relacionamentos, devemos lembrar que a paciência é uma qualidade que se adquire com o tempo, de modo que não podemos exigir dos imaturos o mesmo grau de paciência que já temos, após uma experiência espiritual (observe que falamos de experiência espiritual, que não se confunde com tempo humano de conversão). Para tanto, é conveniente:

a) dar exemplo de paciência aos mais imaturos. O fato de mostrar paciência aos menores (i.e., aos de fé mais imatura que a nossa), através de serenidade e paz interior, representará muito para o crescimento espiritual dos imaturos.

Jesus fez isto em Seu ministério e Seus discípulos, ao aprenderem d’Ele, puderam evangelizar o mundo todo de então de forma paciente.

b) devemos levar as “crianças espirituais” a aprenderem superar caprichos, a saber esperar chegar algo realmente grato no tempo oportuno, que é o tempo de Deus – Vemos, assim, que a atitude que de vemos despertar nos crentes infantis é bem diferente daquela que tem sido alardeada pelos mestres da confissão positiva e da teologia da prosperidade.

c) devemos ensinar os infantes espirituais a compreenderem as necessidades espirituais das pessoas mais próximas a elas, para que aprendam a esperar em Deus.

d) apoiar os crentes a terem paciência em situações de provação e de sofrimento que exigem, certamente, uma maturidade ainda não alcançada pelo que sofre.

e) incentivar a prática da oração e da leitura da Palavra de Deus, para que o crente tenha condições de saber qual a vontade de Deus para a sua vida.

f) fazer o irmão compreender que ter paciência não é se anular nem ser indiferente.

g) fazer o crente entender a profundidade e necessidade de se ter paciência na vida espiritual.

OBS: “…A longanimidade consiste em suportarmos as fragilidades e provocações alheias, com base na consideração que Deus Se tem mostrado extremamente paciente conosco.

É a paciência que nos permite subjugar a ira e o senso de contenda, tolerando as injúrias. É a constância de alma, sob provocação à alteração(…) tolerância ante os erros sofridos, sem ira e sem vingança.…” (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.3, p.63).

– Por fim, temos a questão da paciência do ministro do Evangelho, daquele que tem de cuidar do rebanho de Deus (I Pe.5:2).

Jesus, ao Se apresentar como o Bom Pastor foi categórico ao afirmar que o “bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo.10:11).

Na formação de dois grandes líderes do povo de Israel, Deus, para criar um caráter condizente com o papel de liderança que reservava a estes dois homens, fê-los serem pastores de ovelhas.

Assim, tanto Moisés, quanto Davi tiveram de apascentar ovelhas, para aprenderem, neste ofício, quanto deveriam ser pacientes e longânimos para com os homens e mulheres que liderariam.

No teste final de Pedro, Jesus fez questão de ressaltar ao apóstolo, que, até então fora um depósito de impaciência e precipitação, que ele deveria apascentar Suas ovelhas (Jo.21:15-17).

Vemos, portanto, que a própria ideia de apascentar o rebanho de Deus está relacionada com a indispensável longanimidade que deve acompanhar o ministério pastoral.

– Nas chamadas epístolas pastorais de Paulo (I e II Timóteo e Tito), vemos quanto esta qualidade é importante para o exercício do dom ministerial de pastor.

Em I Timóteo, Paulo, na saudação inicial, refere-se a Cristo como “esperança nossa” e, como já vimos, a esperança é resultado da paciência.

 Logo em seguida, lembrando a incumbência que havia dado a Timóteo quando determinou que ele ficasse em Éfeso, fez questão de dizer que ele, Paulo, não se esquecia de que era o resultado da longanimidade de Deus e que deveria sempre se portar como exemplo desta longanimidade, ou seja, se ele, Paulo, era fruto da paciência de Deus, era exemplo da paciência do Senhor, como poderia exercer seu ministério sem se mostrar paciente para com os demais homens? (cfr. I Tm.1:15,16).

 Assim, aconselhava a Timóteo que também fosse paciente, procurando antes ser um intercessor, alguém que escolhesse homens igualmente ponderados para o ministério, bem como persistente no ensino da Palavra e perseverante na doutrina, bem como cuidadoso no trato com os irmãos.

– Em II Timóteo, Paulo, nesta que é considerada como sendo a última carta do apóstolo, pede a Timóteo que seja participante das aflições do evangelho(II Tm.1:8), que sofra as aflições como bom soldado de Jesus Cristo (II Tm.2:3), ou seja, que seja paciente, pois participar das aflições é sofrer e o resultado do sofrimento, como vimos, é a paciência.

– A Tito, Paulo também fala de paciência, pois lembra, já na saudação, que a esperança da vida eterna foi manifestada a seu tempo pela palavra da pregação (Tt.1:2,3), mandando que aos velhos seja ensinado que tenham paciência (Tt.2:2), devendo ele próprio (Tito) dar exemplo nestas admoestações, isto é, que ele próprio se apresentasse paciente.

Vemos, portanto, que a paciência é uma qualidade extremamente necessária para os ministros do Evangelho e que deve sobressair dentre as demais.

V – A PACIÊNCIA E A BEM-AVENTURANÇA DOS PERSEGUIDOS

– A longanimidade, ou seja, o longo ânimo, é a qualidade de suportar o próximo, de entender a sua fragilidade e saber esperar o instante adequado, o momento oportuno.

Se Deus não fosse longânimo, nenhum ser humano estaria vivo sobre a face da Terra, pois Deus, certamente, já teria destruído esta geração pecaminosa e rebelde. O longânimo não é apressado, não se precipita, sabe esperar a hora certa.

O longânimo não tem “o pavio curto”, nem é “estourado”. Nos dias atuais, onde todos querem tudo de imediato, em que o tempo real é a tônica, em que tudo é para agora, para já, ser longânimo é difícil, mas quem é nascido da água e do Espírito é longânimo, é paciente.

Para gerar esta paciência no crente, Deus o submete a tribulações, pois é a tribulação que cria paciência em nós (Rm.5:3), que o diga o patriarca Jó (Tg.5:11). Sejamos pacientes, é o conselho que nos dá Tiago, o irmão do Senhor (Tg.5:7,8), Senhor que tudo suportou por amor a mim e a você (Hb.12:1,2).

– Esta longanimidade também gera uma bem-aventurança. É mais do que feliz o longânimo, porque, como Jesus nos ensinou, “bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.” (Mt.5:10).

Aqueles que suportam a perseguição, a aflição, esperando no Senhor, terão a vitória, porque não confiam em carros nem em cavalos, mas fazem menção do nome do Senhor (Sl.20:7), não o negando com atos precipitados e carnais.

” Sê bom soldado de Cristo Jesus, sofrendo as aflições. Não sufocando a mensagem da cruz nas perseguições. Vai Seu amor proclamando, novas de paz, sim, levando, aos que estão aguardando a salvação.” (3ª estrofe do hino 394 da Harpa Cristã). O cristão sabe que, se padece com Cristo, com este mesmo Cristo será glorificado (Rm.8:17).

– Perseguição dá-nos “…a ideia de algo que nos segue opressivamente, correndo atrás de nós, alguma severa ou sistemática opressão.

O original latino [persecutio, observação nossa] fala, por assim dizer, sobre o caçador que segue após a sua vítima, com a intenção de prejudicá-la ou matá-la.

A perseguição geralmente é uma tentativa constante e, por muitas vezes, sistemática para eliminar ou prejudicar o indivíduo perseguido.…’(CHAMPLIN, R.N. Perseguição. In: Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.241).

A vida com Cristo, neste mundo, é caracterizada pela perseguição. Jesus sempre advertiu Seus discípulos de que estes seriam perseguidos, como o próprio Cristo foi perseguido, numa perseguição crescente, como nos registram os evangelhos.

Entretanto, por paradoxal que possa parecer, a perseguição do salvo por causa da sua justiça, por causa da sua fidelidade ao Senhor, é uma bem-aventurança.

– Quando somos perseguidos por causa da justiça, devemos ter a convicção íntima em nossa alma e nosso espírito de que isto é resultado de nossa decisão de servir a Deus.

O mundo nos aborrece porque servimos a Cristo, porque somos ramos da videira verdadeira (Jo.15:18,19).

Debaixo da perseguição, tenhamos a perspectiva divina, a certeza de que a angústia, a tribulação gera em nós a paciência, ou seja, a perspectiva do tempo de Deus, a visão dos propósitos e dos objetivos divinos em nossas vidas.

Debaixo da perseguição, ainda que realmente soframos, não podemos desanimar nem nos sentir desamparados, como, aliás, era o sentimento do apóstolo Paulo (II Co.4:9).

– A Bíblia, mesmo, chega a nos afirmar que o fato de sermos perseguidos é a comprovação, a autenticação de nossa sinceridade diante de Deus. “Ai de vós, quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas.” (Lc.6:26).

Não podemos querer agradar aos homens, mas unicamente a Deus, e a paciência que o Senhor nos dá através do Espírito Santo nos fará com que possamos resistir à perseguição, que possamos nos manter fiéis ao Senhor, apesar de todas as dores que venhamos a sofrer por causa deste serviço à causa santa.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.mediafire.com/file/vdci9xo7vzp2wp4/1T2017_L6_esbo%C3%A7o_caramuru.pdf

3 Comentários

  • Egilson

    Paz do Senhor glorifico a Deus pela vida do pastor Evangelista. Dr. Caramuru Afonso Francisco . Estes subsidio tem nos ajudado muito para nós fazer a obra de Deus.

  • Iolanda Pereira de Sousa

    Bom dia Pastor que o Senhor Jesus continue lhe abençoando.
    Gosto muito dos seus esboços das lições são muito bons.
    Me congrego na Assembléia de Deus de São Luís do Maranhão, Área 11 1° Conjunto Cohab e gostaria que esses esboços estivesse disponível para nos ajudar nas lições bíblicas . Agradece Iolanda sua irmã em Cristo.

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